Recordo de noites como essa. Noites de sábados à noite sem
companhia, sem ter o que fazer, sem sono e sem expectativas.
Lembro de sentir uma angustia imensa; uma vontade absurda de
beber, de fumar, de sair e conhecer um estranho pra conversar a noite inteira.
De escrever, de compor, de tocar um soul e sorrir sem motivo. Mas só vontade.
Não lembro o que eu fazia. Acho que apenas pensava como
poderia e nunca acabou sendo.
Aqui estou eu. Mais um sábado a noite de ócio e sem
produtividade. Não saí, não bebi, não fumei e não conversei com um
estranho a noite inteira.
Mas dou-me por satisfeita.
Li um livro, escrevi umas linhas. Estou ouvindo Aretha e
pensando ‘que puta voz do caralho! Como canta essa mulher!’ Estou num estado
sublime de espírito. Meu interior transbordando calmaria e plenitude. Talvez
seja o trabalho, o dinheiro, a independência, as conquistas. Claro que a
inquietude do novo e da descoberta ainda me sonda, porém não mais me atormenta.
E por isso eu até arriscaria dizer que estou alegre.
E agradeço por me sentir, depois de tanto tempo vagueando na
penumbra, como um raio de sol numa manhã de domingo: satisfeito por poder
iluminar um dia de descanso.