Calmaria


Eu vivo distante, tentando não pensar na calmaria que faz meu barco não seguir adiante. O que para muitos é uma situação favorável, para mim é mais que tédio. Eu odeio a zona de conforto. Aprendi a viver extremos. Paz ou guerra. Tudo ou nada.

Acontece que conquistei muito mais do que desejei. Mas ainda não é suficiente. Nunca terei o suficiente. Mesmo que já tenha o bastante.

Porque se chegar algum dia a acreditar que já deu, perderei a força motriz da minha capacidade de insistir, de galgar novos rumos.

O que há além do lugar onde o sol se põe? Porque quando a noite cai, as estrelas dançam no céu?  Porque todos os rios correm para o mar mas ele nunca se enche?  Lua, você não vai brilhar para mim esta noite? Eu não conseguirei ver meu reflexo nessa escuridão!

Entretanto esse vento não insiste em mudar. E eu sem saber se pego ou não os remos. 

Lady L.


Sem que eu desejasse, minha mente a convidou para se fazer presente, nas primeiras horas do meu sono. Enquanto repetia quase que instintivamente mantras nunca antes pronunciados, de evocação à ela. Desejei estar em sua presença mais do que nunca havia desejado em toda a vida. E a sensação que tomou conta de mim foi algo inexplicavelmente incrível.
Meu corpo inteiro fervia, imerso num formigamento perene e aterrorizador. Aquela sensação parecia muito com medo, mas prefiro definir como algum tipo de preparação para algo que eu não sabia se estava por vir.
E o mantra crescia. Minha mente reproduzia palavras lindas. Meu desejo era de acordar e escrever incessantemente; porém se eu o fizesse, perderia aquela manifestação sobrenatural e talvez até esquecesse tudo o que estava proferindo.
Não levantei. Fiquei esperando que algo único acontecesse. E dormi.  Não sonhei.
Todavia pela manhã despertei e meu quarto estava imerso em luz. Não luz, mas um espectro de cores dançantes, como o reflexo de frestas coloridas numa floresta sob a influencia da aurora. Senti como se houvessem milhares de seres coloridos festejando em meu quarto. Algo encantador.

(...)