Plena


Recordo de noites como essa. Noites de sábados à noite sem companhia, sem ter o que fazer, sem sono e sem expectativas.
Lembro de sentir uma angustia imensa; uma vontade absurda de beber, de fumar, de sair e conhecer um estranho pra conversar a noite inteira. De escrever, de compor, de tocar um soul e sorrir sem motivo. Mas só vontade.
Não lembro o que eu fazia. Acho que apenas pensava como poderia e nunca acabou sendo.
Aqui estou eu. Mais um sábado a noite de ócio e sem produtividade. Não saí, não bebi, não fumei e não  conversei com um estranho a noite inteira.
Mas dou-me por satisfeita.
Li um livro, escrevi umas linhas. Estou ouvindo Aretha e pensando ‘que puta voz do caralho! Como canta essa mulher!’ Estou num estado sublime de espírito. Meu interior transbordando calmaria e plenitude. Talvez seja o trabalho, o dinheiro, a independência, as conquistas. Claro que a inquietude do novo e da descoberta ainda me sonda, porém não mais me atormenta. E por isso eu até arriscaria dizer que estou alegre.
E agradeço por me sentir, depois de tanto tempo vagueando na penumbra, como um raio de sol numa manhã de domingo: satisfeito por poder iluminar um dia de descanso.

O Muro


Eu preciso sentar aqui e escrever, ou enlouqueço.
Desliguei a luz da sala e fiquei alguns minutos contemplando a chuva que caia do céu e molhava o muro da minha casa. O muro despertou estes antigos pensamentos, que insistem em renovar minhas idéias. Maldito muro.
Eu o olhava e questionava a minha existência. O porquê de tanta mesmice, tanta rotina e repetição. Marasmo e tédio.

E se a vida é mesmo essa caixa de Pandora, esse sonho que possui um despertar misterioso chamado morte e traz à minha mente muitas questões retóricas: O que me dá certeza de que estou acordada?  Porque estou aqui?  Que sentido há em nascer, viver e depois morrer?
O que serei? (...) Serei? Um mero sopro de existência insignificante diante de tantos zilhares de seres que esse planeta habitável no meio da imensidão possui.
 As próximas gerações não recordarão quem fui, assim como não me recordo quem foram os ancestrais que deram origem a mim. E mais uma vez me questiono que sentido há nisso. Em apenas ser formado, para conhecer o que foi a terra. Para construir laços emotivos com outros seres que apenas existirão também. E depois ser esquecido.
Quantas outras zilhares de pessoas sequer pararam pra pensar sobre isso e levam suas simples vidas, contentando-se com o fato de que “é assim mesmo”. Talvez estas sejam mais felizes que eu. Apenas sorriem e vão em frente.
E aquele mínimo e seleto grupo que nasceu pra brilhar, para fazer a diferença? Como terá o acaso os escolhido? Aqueles que viveram, ao invés de apenas existir e souberam transformar o sopro breve de existência na terra em algo significativo e proveitoso. A esses, invejo. Queria ser como eles. Nascer com alguma espécie de dádiva. Talvez não estivesse nesse momento a me questionar diante de um muro molhado de chuva. Ou talvez sim... Quem sabe? Poderia estar me perguntando: Por que eu? =/
Não chegarei a lugar algum com estes pensamentos. E de nada aproveitaria mais ou menos, sendo alguém que questionou, que nem se importou, ou que viveu ao invés de apenas existir. O tempo se vai para todos, e o sentido inútil de uma vida passageira de toda forma é eminente. Não importa quem eu seja. O que resta para estes ou aqueles é o nada. O mesmo nada. Nem uma mera lembrança. O fim é sempre o mesmo e todo questionamento é vão.



Caleidoscópio


Era uma garota que possuía mais pensamentos do que as palavras conhecidas pudessem expressar. Observava muito e falava pouco.

O tempo foi calando a sua voz, o que a tornou uma pessoa muito audível; característica que seus amigos adoravam, pois podiam falar horas sobre si próprios de modo que de tanto falarem sozinhos, encontravam por si mesmos a solução de seus próprios problemas.

Mas nunca lembraram de perguntar como a garota se sentia. E ela foi sentindo cada vez mais para si. Acumulando turbilhões de sentimentos que a fez mudar toda sua forma de pensar e de enxergar a vida. E isso a calou ainda mais.

Certo dia, alguém se deu conta de que a garota não falava de si própria. E vieram as perguntas. E mesmo ela ficou surpresa ao perceber que não possuía mais respostas sobre si. Aqueles sentimentos acumulados gritando dentro de si estavam tão apressados para sair e se fazer notar que acabaram congestionando a saída, seja lá de onde eles se acumulavam.

Com o tempo acostumou-se a conviver também com isso.

E a solidão que fazia parte do seu mundo tão vívido ganhava cores na insônia imaginativa de suas madrugadas pensantes. Escrevia, para não falar sozinha. Mirava-se num espelho de palavras amargas em versos escritos numa espécie de emese.

Sua voz distante ressoava no cérebro pensante como quem grita diante de um abismo. E quando lia o reflexo de seu desvario, o abismo gritava de volta... Um eco alucinante de si mesma.

Uma sala de espelhos distorcidos: essa era sua mente;  era assim que se enxergava. Mas era só um reflexo imaginário não condizente com sua figura real. Ela sabia, mas ainda não conseguia enxergar de outra forma. Não ainda.

Sinais

Só tenho isso pra dizer, por hoje.


Estou ouvindo um galo cantar


Estou ouvindo um galo cantar, e recordo.
Há quanto tempo não escuto esse som?
Som de noites que eu gostaria muito de esquecer.
De ficar acordada em um tempo onde só havia o silencio e a espera.
Madrugadas a fio, sentada na janela de um quarto no primeiro andar... aquela casa numa cidadezinha do interior, onde só o apito dos guardas cortava a noite.
Eu escrevia, depois chorava. E olhava as estrelas, sem achar que haveria futuro, desejando fugir pra bem longe dali.
Lembro de sair correndo, certo dia.
Eu fugia, às vezes; ninguém nunca notou que eu saia de casa, à noite. Porém não havia ninguém na rua. E eu só queria conversar.
Houve coisas que sequer posso escrever.
Mas a vida mudou e eu já não choro mais.
Foi esse galo que me fez tocar na cicatriz daquela enorme ferida que já sangrou tanto e às vezes dói. Todavia  a dor é só uma memória arraigada nessa cicatriz.
Compreendo que mesmo sem ouvir o som, por vezes ainda escuto este mesmo galo (ou seria aquele?) cantar. 

Chuva


Era o último dia e chovia.
Como se todos os anos, numa vã tentativa de protesto, os deuses decidissem lavar toda a imundícia daquele festejo insensato.
Mas eu também me encontrava em meio aquela louca alegria. E estando presente, constatava que a chuva funcionava tão somente como uma forma de enxaguar todo resto de tristeza que poderia ainda estar impregnado na alma das pessoas. Chover era um alívio.
As pessoas, primeiramente procuravam abrigo. Eu inclusive. Mas quando os locais acabavam por se tornar extremamente lotados, algumas tomavam coragem para encarar o frio e a impetuosidade do vento, e acabavam por descobrir que aquilo era especial.
Dançar. Na chuva.
E o sorriso ia se abrindo nos rostos, como se o mundo pudesse acabar exatamente naquele instante e nada mais os preocuparia. No momento eram só elas e a chuva. E a música que não parou um segundo sequer.
E aqueles que ainda estavam abrigados, motivados pela atitude dos primeiros que não encontraram lugar, começavam também a sorrir, e muitos saíram impulsionados por uma espécie de transe coletivo que tomava conta do lugar. Sorrisos chuvosos e música uniam aquelas pessoas desconhecidas.
Mas eu continuei ali. Conhecendo a capacidade que a música tem de hipnotizar as pessoas, decidi não me contagiar e fechei os olhos. Quando abri, ele sorria pra mim. Disse qualquer coisa e eu sem saber porquê, sorri.  Então me dei conta de que havia aberto um portal. Arrependida, me virei e fingi curtir a musica, fechando novamente os olhos.
E de repente o mundo era somente eu ali. Mesmo que todas as outras pessoas estivessem ao meu lado e eu me sentisse muito parte delas. O momento era eu; era meu. Meu, da música e daquela sensação única de estar num lugar onde todos compartilhavam o mesmo sentimento que era tão particular de cada um. A estranheza era mesmo essa: a singularidade coletiva que pairava no ar, transformando a atmosfera num espectro de alegria e força.
Quando percebi já estava na chuva, sorrindo. Dançando de olhos fechados. Envolta no transe do qual havia fugido minutos antes. 

True History


Desceu as escadas com o coração em prantos. Entretanto seu rosto espelhava serenidade. Até esboçou um sorriso, meio sem graça; queria ser dona da sua própria situação.
Sentiu-se forte, como nunca havia sentido. As coisas que disseram já não eram reais. Havia a convicção de quem estava fazendo algo que mudaria totalmente sua vida. Nunca mais deixaria que falassem dela. E não permitiria sequer que ousassem brincar com seus sentimentos outra vez.
Tinha arrumado os cabelos, e usado aquela roupa que a deixava mais mulher. Olhara uma última vez as paredes e o teto deste que fora seu quarto durante tantos anos. Quantas lembranças!
De ficar madrugadas varando na janela, à espera que algo inusitado acontecesse naquela viela. Mas somente os guardas noturnos apareciam e nunca sorriam, nem diziam boa noite. Naquela época ainda não havia conversas incessantes pela internet.
E olhou também aquela casa tão grande, e o espelho da sala, onde se achou muito sensual, e decidida. Seu interior sangrava, mas dali por diante decidiria seu próprio caminho, faria suas próprias escolhas. E a primeira de muitas que sucederiam, foi não seguir o que lhe ensinaram ser o certo durante sua pouca vida. Naquele exato instante decidiu questionar a sua existência.
Passou a mão pelos móveis, olhando cada detalhe daquele lugar, cada cômodo. E desceu as escadas. Entrou no carro. Tudo o que tinha estava no porta-malas. Porém nem malas havia, estava tudo jogado dentro de um saco, bagunçado, da mesma forma que se sentia naquele momento: Bagunçada como algo que não valia nada e estava jogado de qualquer forma, semelhante àquelas roupas no saco.
Tinha que prosseguir. Não chorou. Sorriu.
No primeiro movimento do carro, sentiu o coração gelar. Ia devagar pela estrada, enquanto um flashback dançava diante de seus olhos. Parecia um filme, um clipe, todavia era sua vida.
Encontrou o moço a quem tanto amou, na saída da cidade. Parou o carro, tocou em sua mão e disse adeus.  Ele já não a amava, ela sabia e mesmo assim deixou seu coração nas mãos daquele moço. E por todo o caminho até chegar a seu novo destino, respirou como se tudo aquilo fosse um sonho triste que aconteceu. E ali fez duas promessas.
Não deixaria, nunca mais, alguém lhe pisar. Não voltaria àquele lugar. 
E as cumpriu.

Calmaria


Eu vivo distante, tentando não pensar na calmaria que faz meu barco não seguir adiante. O que para muitos é uma situação favorável, para mim é mais que tédio. Eu odeio a zona de conforto. Aprendi a viver extremos. Paz ou guerra. Tudo ou nada.

Acontece que conquistei muito mais do que desejei. Mas ainda não é suficiente. Nunca terei o suficiente. Mesmo que já tenha o bastante.

Porque se chegar algum dia a acreditar que já deu, perderei a força motriz da minha capacidade de insistir, de galgar novos rumos.

O que há além do lugar onde o sol se põe? Porque quando a noite cai, as estrelas dançam no céu?  Porque todos os rios correm para o mar mas ele nunca se enche?  Lua, você não vai brilhar para mim esta noite? Eu não conseguirei ver meu reflexo nessa escuridão!

Entretanto esse vento não insiste em mudar. E eu sem saber se pego ou não os remos. 

Lady L.


Sem que eu desejasse, minha mente a convidou para se fazer presente, nas primeiras horas do meu sono. Enquanto repetia quase que instintivamente mantras nunca antes pronunciados, de evocação à ela. Desejei estar em sua presença mais do que nunca havia desejado em toda a vida. E a sensação que tomou conta de mim foi algo inexplicavelmente incrível.
Meu corpo inteiro fervia, imerso num formigamento perene e aterrorizador. Aquela sensação parecia muito com medo, mas prefiro definir como algum tipo de preparação para algo que eu não sabia se estava por vir.
E o mantra crescia. Minha mente reproduzia palavras lindas. Meu desejo era de acordar e escrever incessantemente; porém se eu o fizesse, perderia aquela manifestação sobrenatural e talvez até esquecesse tudo o que estava proferindo.
Não levantei. Fiquei esperando que algo único acontecesse. E dormi.  Não sonhei.
Todavia pela manhã despertei e meu quarto estava imerso em luz. Não luz, mas um espectro de cores dançantes, como o reflexo de frestas coloridas numa floresta sob a influencia da aurora. Senti como se houvessem milhares de seres coloridos festejando em meu quarto. Algo encantador.

(...)

Mórbida Patologia

Tim, para ti meu coração

Arrancado do meu peito

Estou despedaçada

E se eu pudesse enterraria os meus dedos no meu peito

Arrancaria meu coração

E Dava-o a ti

Uma massa pulsante de uma mórbida patologia

Alem do meu coração

Existem alguns pequenos órgãos que gostaria de lhe dar

Glândulas, pâncreas, carnes variadas...

Ofereço-te estes presentes: presentes raros!

Sei que eles não são grande coisa em comparação com o que já me destes

Eu ouvi que estes órgãos não sobrevivem fora do corpo por mais que algumas horas

Mas tentarei chegar aí o mais rápido possível

Não importa o que aconteça será por minha conta

No meu coração.


(TLW)

Conhecimento

Eu sempre gostei de aprender. Sempre fui interessada por TODOS os tipos de assuntos. E isso me trouxe conseqüências, tanto boas quanto ruins. Em sua maioria boa, claro. Mas adquiri também muito conhecimento desnecessário e que talvez nunca me sirva na vida. Mas está lá, ocupando um espaço que poderia ser útil.

(Você sabia que o maior pênis do mundo é o da baleia, podendo chegar até 3 metros de comprimento? Eu sabia... Alguém me disse isso em algum momento da minha adolescência e nunca mais essa informação dispensável saiu da minha cabeça. Não me serve, e nunca vou usar isso na vida, a não ser em algum papo de boteco, depois de umas 4 tequilas. RS.)
Sempre afirmei que o conhecimento é uma arma. Geralmente você o usa para se defender, mas ele também pode te destruir e você nunca deve se esquecer disso.

Há coisas em minha mente que ainda estão incompletas. Conhecimentos que comecei a buscar, mas por falta de fontes acabaram por não serem finalizados. E hoje percebi numa espécie de epifania que para completar essa lacuna que tanto me perturba seria necessário fazer uma escolha na qual eu não acredito. Não mais.

É difícil me dar conta de que preciso agir dessa forma, já que não acredito. E por não acreditar, consequentemente, o fato em questão não deveria sequer existir. E na verdade não existe, só se eu passasse a acreditar. E acreditar seria regressar a um momento ao qual já me desvinculei ha anos. Involução definiria.

Sei que estou sendo redundante e prolixa, mas é preciso, tamanha a confusão que se instala em minha mente ao falar deste assunto do qual não posso tratar explicitamente. Inúmeras imagens permeiam minha imaginação formando uma explosão que clareia a minha mente como uma bomba de informações revelando-se e dançando diante de mim. E eu estou acordada. EU ESTOU ACORDADA! É tudo tão confuso. Porque só agora eu consigo enxergar?


Mas tratando novamente de fazer uma escolha na qual eu não acredito, finalizo aqui deixando claro que só escrevi estas linhas não para explicar algo, ou me fazer entender, mas para demonstrar como me sinto no momento. E também para registrar a data histórica em que esse fato ocorreu. Numa tarde quente de uma terça feira de Março. Escolhi meu caminho e vou buscar aprender sobre ele. Vou me entregar e me dedicar a ele. Sei que isso será enfadonho e massacrante. Mas eu necessito saber o que existe nas entrelinhas; quero ser capaz de enxergar além do que o que acredito ver. Mesmo que sofra após encontrar o que procuro, já que algo, uma vez aprendido, jamais pode ser esquecido.

Algumas pessoas encontram o que chamam de felicidade em coisas simples. Exatamente por que as coisas simples não exigem excesso de aprendizado. Elas são tão puras em sua essência que acabam por se tornar simplesmente executáveis. Já aqueles que excedem em conhecimento, são pessoas atormentadas pelo que sabem, pelo que viram e viveram. O saber demasiado é seguido de uma cobrança enorme, por parte de si mesmo. Exigências, pressões, sofrimento e preocupações. E não há como desistir, já que não se pode apagar o que se aprendeu.
Não existe volta no caminho do conhecimento. O conhecimento é algo eterno.

A passagem


Ela desceu no aeroporto com aquela sensação angustiante no estomago.

Não eram borboletas, eram agulhas. Um gosto ferruginoso em sua boca lembrava sangue. Estava nervosa. Respirou fundo pensando ser louca.

Duas semanas atrás, por um impulso, comprara uma passagem por causa de uma promoção que talvez jamais encontrasse novamente.

Estava com vontade de viajar e unira o desejo ao calor do momento.

Já havia um mês que aquela paixão a dominara por completo. Não conseguia dormir, não podia comer, não conseguia sequer respirar sem parar por um instante para pensar nele. E todas as vezes que pensava, um sorriso aparecia incontrolável nos lábios. Ela não conseguia conter aquela sensação e achava isso ridículo.

O tempo fora implacável e cruel por dois anos. As horas pareciam não querer passar. Sentira-se inútil... inerte durante esse tempo. Presa em recordações que insistiam em permanecer ali, em algum canto empoeirado daquele coração bagunçado.

Mas conheceu esse rapaz, e foi como se tivessem aberto as janelas do velho coração. Quando a luz começou a penetrar as frestas ficou como cega, não conseguia enxergar devido ao tempo em que permanecera no breu. Então o mofo deu lugar ao ar puro que começou a entrar e quando finalmente pôde respirar aliviada se deu conta que estava na hora de arrumar a bagunça e jogar fora os velhos papéis.

Um mês inteiro de conversas. Sorrisos, desejos ocultos compartilhados. Ficaram amigos, depois. E então, mais que amigos. Havia cumplicidade.

Ela percebeu a força enorme que ele fez para não demonstrar que já estava inundado por esse sentimento de tal forma que não conseguiria nadar de volta à margem sozinho. Mas ao se dar conta disso, notou que ela também estava agindo do mesmo modo... Precisavam um do outro para se apoiar. Todavia somente se olhavam, nenhum dos dois conseguiu tomar uma decisão ou sequer dizer algo.

Se não decidissem, submergiriam nesse sentimento e morreriam sem dizer palavra alguma.

Foi quando comprou as passagens. E só contou depois de feito. Ele sorriu com aquele sorriso de menino bobo, surpreso e feliz. Quando ela viu seu sorriso, através da tela do computador, conseguiu confessar que ele havia dominado seus pensamentos. Que ela não conseguia ao menos dormir em paz, pois seus sonhos haviam sido povoados por momentos que ela gostaria de viver ao lado dele.

E ele tocou a câmera como se segurasse a tela do computador e disse: Eu amo você.

Porque ele disse isso? O coração dela pareceu parar. Engoliu em seco e não conseguiu dizer nada. Apenas abaixou a cabeça e após eternos segundos angustiantes de silencio balbuciou que precisava fazer qualquer coisa e desconectou.

Não era paixão. Era desejo. Só percebeu após ouvir aquela frase. Não o amava, não o queria para sempre. Não tinha o direito de perpetuar aquilo, mas já havia comprado as passagens e teria que encará-lo pessoalmente. E aquilo a consumiu por uma semana até o momento em que ela desceu no aeroporto com aquela sensação angustiante no estômago.

Não eram borboletas, eram agulhas. Um gosto ferruginoso em sua boca lembrava sangue. Estava nervosa. Respirou fundo pensando ser louca.

“O que estou fazendo?” Sua mente lhe torturava durante todo o trajeto e também naquele momento.

Mas tinha que continuar.

E assim que atravessou o corredor, o viu encostado à parede olhando intensamente para ela. Ele sorriu. E o mundo dela parou. Um mês inteiro de histórias passou diante dela, as conversas, as risadas, as lágrimas, o desespero, os desejos ocultos, o toque na câmera. Ela sorriu também e uma epifania a fez entender que aquilo era tudo que ela mais desejara. Não passou um mês inteiro em devaneios em vão. Não se arriscou numa viajem por puro capricho. Definitivamente não era apenas um desejo.

Vê-lo ali, como um sonho transformado em realidade diante de si a fez agradecer por tudo que viveu e por tudo que fez. Então sorriu de volta. E ele veio ao seu encontro.

Ela ia dizer olá, mas ele a calou com um beijo apaixonado, pois a conhecia. Sabia que ela talvez duvidasse, talvez desistisse. Precisava viver cada instante como se fosse o ultimo momento do universo prestes a entrar em colapso. Precisava transmitir segurança. E foi exatamente como ela se sentiu diante daquele garoto: Segura.

E deixou a alegria invadir seu corpo e sorriu mais uma vez. E mais outra vez. Já não sentia as agulhas... só borboletas. Só segurança. E ao darem as mãos, selaram o que haviam sonhado um para o outro, mesmo que não houvessem compartilhado. Foram ser felizes.

Corda Bamba (Para Neto, com todo carinho u,u)


Hoje prometi que foi a ultima vez.

Não vou viver a seus pés recolhendo as migalhas que caírem de seu amor.

Vivendo nesta corda bamba que você chama de relacionamento, sem nunca saber que dia terei mais ou menos de você.

Então chega. Cansei de jogar, cansei de viver implorando, remediando, replicando, resolvendo, adulando e me humilhando.

Já provei o mais doce e o mais amargo de você. Eu só queria teu mel, mas você cospe veneno em mim enquanto eu tento absorver teu néctar. Me ama e me destrói com a mesma intensidade e eu sempre me despedaço em teus desejos malditos.

Me apaixonei. Te desejei muito e até cheguei a me desprezar por isso. Eu que havia abdicado de qualquer forma de amar, me trancando em uma redoma impenetrável, abri uma pequena fresta diante de sua petulância. Você me desafiou e eu me entreguei, e pude sentir mais uma vez o sabor de gostar de alguém.

Mas ontem descobri que amo mais a mim mesma do que a qualquer pessoa. Até mesmo do que a você.

Egoísmo? Talvez, quem sabe? O que importa mesmo é considerar que preciso erguer a cabeça e parar de me rastejar. Vou me colocar de pé, olhar em tua cara e sorrir. Mesmo que seja um sorriso triste de quem não quer dizer adeus.E olharei para o que vivi com saudade, porém muito mais com orgulho de ter conseguido me livrar destes laços que me prendiam.

Contemplei o amanhecer e vi o sol se por ao teu lado; até cheguei a esquecer que existia noite. Mas torno à realidade novamente e dessa vez não haverá lua e nem estrelas.

Não me ignore, Neto.

Você me agride de uma forma estranha. Me provoca, me atiça, joga pedras em mim. E eu pareço movida por suas criticas, como uma criança que anseia desesperadamente a aprovação de um pai. Você me desconcerta ao me afrontar.
Meu comportamento natural seria o de ignorar-te, de não me importar, afinal, você não tem experiência o suficiente pra me conhecer. Você não sabe das minhas origens, não sabe o que eu passei, que traumas eu sofri, que lembranças estão guardadas na minha memória.
Eu andei em mundos que você desconhece, bebê. Eu vi coisas que você se horrorizaria. Eu experimentei o amargo da vida, no cálice da descoberta. Porém sobrevivi.
Mas você me conheceu num momento doce e sereno. Quando eu já havia decidido ser somente aquilo que eu desejasse e não o que os outros julgavam ser correto. Minhas ideologias já estavam formadas. Não havia como retroceder.
O que hoje eu sou são apenas pedaços do que vivi. De um quebra cabeças infinito formado pelo que recolhi no caminho onde andei. E então você chega. Argumentando que nem eu mesma sei quem sou. E eu escuto! Ah, Louca...
E ao invés de apenas ignorá-lo como eu faria com qualquer pessoa, EU ME IMPORTO! Não comigo, mas com você.
Suas palavras me atravessaram como um punhal afiado. As gotas do seu veneno percorreram todo meu íntimo, dilacerando minhas entranhas. Eu me contorci diante da sua convicção. Agonizei de desespero e medo. Quis gritar, mas apenas uma lívida gota rolou em minha face.
Eu quis sentir ódio e não consegui. Então me dei conta que em apenas uma semana, uma pessoa apareceu na minha vida e me envolveu de tal forma que me prendeu nos meus próprios laços. E eu estou aqui agora, de mãos atadas, porque você disse que não me responderia. Que deixaria pra depois.
E eu me senti descartada. Eu me senti desamparada. E é assim que você diz que se entregou, quando na verdade quem se entregou fui eu... Sem perceber me entreguei a você e agora você quer se afastar.
Eu passei dez minutos olhando aquele espaço em branco, tentando entender como algo tão sedutoramente puro se transformou em palavras de desprezo e solidão. Eu, que já estava sozinha, consegui me sentir desolada.
Não sei o que virá amanhã, não sei como conseguirei te encarar. Mas esperarei angustiadamente ao menos um gesto seu, seja ele de aprovação ou não. Mesmo que apenas me olhe e sorria, ou apenas me despreze. Só não me ignore, pois estou tão envolta nesse sentimento que esperaria o muito ou o nada dele, mas nunca o abandono.

Queridos leitores

E daí que ontem minha internet caiu de madrugada e eu fiquei lá com minha cara pra lua de frente pro computador sem saber o que fazer.

E veio aquela vontade de dizer coisas que nunca mais meus dedos tinham escrito, porque meu cérebro também não havia pensado, já que eu não me permiti ter tempo para não fazer nada.

Fazer nada é algo interessante. Eu gosto da palavra devaneio. E curto seu significado. E é incrível que ele só surja nesses momentos de ócio. Lindo como ele invade sua mente permitindo uma viagem estranha, quase impossível. E é tão bom sonhar.

Ontem à tarde eu olhava umas fotos. Hoje olho a tela. Amanhã para onde estarei olhando?

Espero que sempre eu possa ter as palavras como amigas. Procuro despertar o subconsciente alheio através delas. Não gosto de explicitamente expressar o que digo. Bom mesmo é deixar nas entrelinhas o xis da questão. Entenda você, julgue você, decida você. Sou mera condutora da sabedoria intrínseca que o universo me doa. Expressar-me de forma subjetiva torna o diálogo mais emocionante e intenso. E depois, posso deleitar nos comentários absurdos ou eloqüentes que vocês, leitores, deixam pra mim.

E na minha cabeça, grandes exclamações surgem quando me dou conta que o que escrevi foi realmente entendido. E rio, rio muito de mim mesma quando fujo do foco e mesmo assim, percebo que através de meros signos digitados virtualmente, você conseguiu sentir o que daqui eu senti também, ao me deitar em frente a esta tela e começar a digitar algo qualquer e que de repente virou um turbilhão de emoções.
Agradeço aos poucos, mais muito meus... Leitores queridos. Amo muito vocês.