Por algum momento, que não consigo recordar, acreditei que enfim, o inverno havia dissipado.
Procurei olhar à minha volta e buscar um pequeno vestígio de uma simples flor, que pudesse ao menos fazer esquecer o frio que sentia. Que sinto.
Que ainda sinto.
Até aquela outra flor, que no gelo havia brotado, morrera.
Apesar de meus infinitos esforços, acabei permitindo que o frio tomasse conta de tudo. Implacável e voraz como só ele soube ser, acabou por tomar conta até de mim.
E tomada por ele, transformei-me também naquilo que mais temia. Acabei sendo igual, enquanto minha alma clamava por diferença.
Liberta-me!
Ainda que tomada pelo gelo à minha volta, gritei.
Foi a esperança apunhalada que fez ecoar este grito abafado pela solidez.
E gritarei até sentir ruir esta redoma que me sufoca.
Porém não quero que ouçam meus gritos.
Enquanto curtem suas primaveras (ou ao menos fingem) eu sofro o gelo a queimar minha pele. E os sinto a me olhar.
Sei que olham. Não os vejo, mas sei. E não suporto ser olhada. Olhares julgam.
Por isso, o jarro na janela.
Não, eu não estou indiferente à primavera que chegou para muitos. E que já se vai. Eu jamais deixaria de admirar as cores, a vivacidade, a alegria que ela traz.
Anseio por ela. Sei que chegará. Mesmo que seja no calor do verão. Basta-me apenas ser paciente.
Enquanto isso contento-me a enxergar através da transparência gélida as flores na janela.
Breve, serão à minha volta.


E enquanto estiver a contemplar a água das cachoeiras à minha volta, sequer lembrarei que um dia foram a neve de outrora.

4 de novembro


Passei o dia todo esperando. Tentei fingir que não, mas passei. Recebi um beijo de manhã bem cedo. E um abraço. Tava dormindo, mas senti. Acordei mais tarde do que o de costume. Almocei. Recebi um telefonema. Fui dormir. Ia sair. Desisti. Acordei. Fui dormir. Alguém bateu no portão me chamando, mas eu não estava querendo ver nignuém. Fiquei assim até a noite. Acordei. Coloquei uma roupa de ficar em casa, confortavel. Fui fazer um jantar qualquer. Fiz um mais ou menos caprichado. Ele chegou. Foi tomar banho. A família dele chegou. Eu não esperava. Ainda bem que decidi caprichar no jantar - pensei. Ela (minha sogra) sentou na mesa da cozinha. Ficamos conversando. Terminei de cozinhar. Lavei as panelas. Limpei a pia. Pedi licensa e fui pegar as roupas no varal. Joguei-as em cima da cama. Ela as dobrou. Fui tomar banho. Vesti uma roupa mais apresentável. Meu sogro apareceu. Ofereci o jantar. Jantaram. Eu não estava com fome. Fui jogar um game com meu cunhado. Revezamos nas partidas. Eles (Flávio e meus sogros) ficaram na sala vendo TV. Agradeceram, elogiaram a comida. Mais tarde, foram embora. Flávio saiu com eles. Fui experimentar o jantar. Estou de regime. Estava realmente gostoso. Deitei no sofá. Bebi água. Assisti TV. Flávio chegou. Fomos jogar outro game. Voltamos para a sala. Passava um filme. Minha mae chegou. Estava tarde. Chegaram duas amigas dela. Entraram, falaram comigo, me deram um presente e sairam. Conversamos um pouco (os três) e fomos dormir (eu e ele). Finalmente! Sexo de aniversário. Adoro sexo de aniversário.