Emese !


Ânsia de escrever.
A palavra não poderia ser outra: ânsia.
geralmente, utilizo-a para descrever a vontade d vomitar; mas é exatamente o que tenho: uma aflição incontrolável de vomitar o que sinto em forma de palavras.
Aliás - segundo o dicionário - vomitar é 'expelir pela boca substâncias que estavam no estômago', diga-se de passagem.
Ou seja: DESCRIÇÃO PERFEITA !
Mas estavam mesmo no meu estômago? (as palavras)

Uma amiga mais piegas me diria que estavam no coração.
Concluo que estavam mesmo é no meu cérebro, mas, pela licensa poética, retorno à idéia do estômago.
Ácidos e sucos que custam a digerir substâncias pesadas.
Eu sei, eu mesmo as ingeri. Talvez nem sentisse fome delas. Mas às vezes, come-se somente pela sobrevivência.
Algumas coisas, tentamos mastigar, mas a maioria delas é difícil de deglutir. E mesmo assim, somos forçados à engolir.
Meu esôfago sabe. Os movimentos peristálticos intensos tornam essa passagem mais amena. Mas o meu organismo sente que poderia ter sido de outra forma.
Enfim, o meu estômago recebe essa rajada de substâncias tão indigestas.
Só então é que finalmente me lembro que não preciso gastar tantas enzimas de meus sucos digestivos para transformar em simples moléculas essas substâncias amargas e desnecessárias. EU DECIDO.
Vocês me fizeram engolir, mas não podem me forçar a digerir. EU ME NEGO.
Meto o dedo na garganta enquanto é tempo, afinal, recebi LIVRE ARBITRIO.
Emese !!!! Não serei obrigada a aceitar o que não concordo.
Ainda há tempo de colocar pra fora tudo isso.
Sei que vai ser incômodo, pode até doer um pouco, já terei transformado e absorvido algumas pequenas partículas de moléculas, mas DANE-SE!
Vomito de volta (redundante, não?) o que você me obrigou a engolir.
Daqui por diante, a escolha é minha.


Chama



Se você fosse embora
Ao menos eu teria agora
Uma razão especial pra lembrar.

Mas você nunca veio,
Sozinho ainda receio
Se esse dia virá

Dias gelados,
Me sinto cansado,
A vida vaza e voa,
Passa e não perdoa,
O tempo não tem compaixão.

Você foi um raio no âmago,
um momento relâmpago,
Uma chama intensa,
Ainda ativa e densa,
Agindo em minha razão.

Como num lampejo
O fogo de um beijo
E o sangue todo a se inflamar,

Fluindo em minhas veias,
Subindo em cadeia,
Pronto a transbordar.

O que eu sinto e arde em segredo
É uma chama que se chama desejo

Uma chama, que chama desejo.

Por: Fauzi Beydoun

Limpei.


Hoje eu entrei pela porta que você deixou aberta
Olhei a sala vazia, cheia de ilusões
Peguei o rodo e a vassoura encostados atrás dela
A poeira dessa casa enchendo os meus pulmões
Notei que estiveram sempre lá, como eu deixei ficar assim?

Passei a tarde toda revirando velhos retratos
Cartas e músicas com esquecidos refrões
E eu me lembrando que aquilo tudo era passado
Até a parede me mostrava uns antigos borrões:
A foto ao lado do espelho sujo em que você sorria pra mim

Me perdi revirando os pedaços
De alegria do que passou
Foram apenas lembranças tolas
Só momentos, é o que sobrou
De nós

Já é noite e eu me vejo sozinha, com a casa vazia do que limpei
E eu cheia daquilo que esteve comnigo enquanto não acordei

Precisava sair, precisava mudar, mas não devia sem antes aqui entrar e chorar
E essas lágrimas foram o que alvejou a poeira que estava na lemrança do que ficou...

Nada, não ficou nada.
Joguei fora, olho a estrada.
Vazia do nada que habita em mim.
Nada, não ficou nada.
Joguei fora, olho a estrada.
Vazia, calada...

Então sei que posso prosseguir.