Quem é você?


Às vezes, no silêncio frio do meu quarto, eu desligo a luz pra enxergar a escuridão.

Nas cavernas profundas da minha mente, eu busco respostas. Porém muitas são as perguntas e elas me invadem.

As sombras na parede são só o que me resta.

Acabo por tropeçar em mim mesma e abro os olhos: mas eles já estavam abertos.

As coisas estão acontecendo diante dos meus olhos e eu não consigo ver.

A minha razão me expõe à uma situação da qual sou prisioneira - preciso despir o Hábito. Preciso largar os hábitos.

Quantas vezes o quarto escuro me fez sentir como Sofia, com uma carta branca na mão, e a pergunta que grita em silêncio: Quem é você?

Por vezes voltei a ser aquela menina que não sabe o que quer, pois simplesmente não descobriu ainda quem é. O que é.

É como um abismo profundo em que eu estou caindo infinitamente: não sei onde e muito menos quando vou parar.

E por quantas vezes isso jamais me incomodou, mas as situações de perda me fazem retornar ao ponto de partida.

A queda machuca, porém o que mais me dói é não saber aonde estou indo.

Eu estou caindo pra cima.

Alguns insistem em dizer que estou subindo, escalando.

Mas só eu sei que estou caindo.

Quando chegar lá em cima, serei mais forte.

Mas, quando?

Contemplação




O sol entrando pela janela de vidro fumê e fazendo desenhos nas poltronas acolchoadas
A sombra nas árvores frondosas do caminho que balançam à leve brisa vespertina, num lusco-fusco brincalhão que acaricia minha retina
O som das cigarras cantantes, entrevindo, que anuncia o início da escuridão, alertando a hora de se recolher, num desespero de última canção
Muito aprendi com elas. A não temer, a sempre cantar. Algo me vem à mente.
Uma história qualquer de infância, onde aprendi com elas a sempre trabalhar, a estocar, a prever o inverno, e mesmo assim, fui de encontro ao que aprendi. Então, não aprendi. Se o tivesse feito, aplicaria o ensinado.
Esqueço a história. A janela é mais atrativa que a minha incapacidade de aprender
O movimento do asfalto inerte, triste, aquelas mesmas história pra contar: Pressa de voltar, pressa pra chegar, pressa... pressa... pressa...
O transito é mais poderoso do que qualquer pressa. E o menino sentado ao meu lado dorme, como se o mundo fosse somente aquele único momento que ele tem pra descansar
Em nenhum desses fins de tarde, mesmo tomada pelo cansaço, jamais fechei os olhos à beleza desse restinho de natureza que ainda me fascina em sua essência mais pura
Meros galhos, meras sombras, meras canções...
Aproveito, pois sei que diante da violência do movimento inerte do asfalto triste, pode ser a última coisa que me reste: a contemplação.



Mudança


Já espero por ela há algum tempo e estou ficando sem paciência.Deveria ter marcado hora.Deveria ter ligado pra saber.Mas agora, sei que vem, mas não sei quando.E nem tenho como manter contato....
Alguém aí conhece a Mudança?Diz pra ela que eu tô esperando.Diz que eu tô anciosa.Acho que o vôo dela tá atrasado.Pede pra me mandar por email a hora que chega.
Esperar é muito chato.Cria calos no cérebro.Ação e movimento: o ser humano precisa disso.Mas esperar atrofia os músculos.Mudança, CHEGUE LOGO!
Ei, será que ela vem mesmo?Agora já não tenho certeza.Começo a duvidar se a esperança é mesmo a última que morre...Acabo por concluir que ela só faz matar os sonhosOs meus estão sendo esquecidos com o tempo.
Mudança...quando comecei a escrever, era algo tão palpável.Agora, no fim dessas palavras, já nem sei.A espera às vezes mata a esperança.Só as vezes.Alguém aí tem o telefone da Mudança?