Noite fria, banho gelado e ar condicionado ligado.
Nudez sob o edredom de casal.
Notebook ligado sem internet.
Comédia romântica assistida na sessão das 22hs.
Escuro e solidão.
Não sei se pelo contexto supracitado; o fato é que por um momento senti vontade de ter alguém aqui ao lado para jogar conversa fora. Falar de maré, pirâmides e cotação do dólar. E de olhar nos olhos e rir, rir, rir e chorar. Chorar de tanto rir.
Lembrei de certo árabe que cruzou meu caminho muitas semanas atrás. Estranho seu olhar, estranho nossos encontros. Tudo nele me era estranho; isso me fascinou.
Nunca me permiti ser abordada por um homem. Quando eu desejo, vou atrás dos meus objetivos. Sempre consigo o que quero. Sei de fórmulas secretas e palavras mágicas... Todavia não foi o que aconteceu desta vez: ele foi extremamente sutil e de uma delicadeza ao mesmo tempo tão sensual e tímida que me desarmou por inteiro. Fiquei sem defesa perante seus elogios mascarados. Quando dei por mim, meu telefone estava escrito num pedaço de papel. E logo após, ele passou a me visitar t-o-d-o-s-o-s-d-i-a-s. Em alguns destes, mais de uma vez.
Ensinou-me palavras estranhas. Contou uma história sobre as marés do Nilo e me mostrou fotos de desertos de sal e pirâmides. Falava de cidades com nomes impronunciáveis e disse que acompanhava a cotação do dólar, pois quando a situação estivesse favorável ele ia voltar para “sua terra”.
Certa noite, deitada no quarto de um apartamento e olhando a lua pela janela, aprendi como se diz cócegas em árabe. Aprendi a escrever também. E rimos... Rimos tanto que chorei. Chorei de tanto rir.
Quando saíamos, ele sempre andava a minha frente. Foi o que mais estranhei. Então me explicou que na “sua terra” as mulheres não andam lado a lado com os homens. E logo eu que nunca abaixei a cabeça para nenhum deles, concordei sem nada dizer, somente obedeci e o seguia pelas ruas como uma estranha submissa atrás de seu possuidor.
E passamos o mês inteiro assim, entre marés, pirâmides, dólares, risos e submissão. Até que um dia ele se foi. Na ocasião, senti certo alivio, já que estava me sentindo quase sufocada por sua presença constante, tão adaptada eu estava ao estilo solitário de viver.
Porém hoje, durante alguns eternos minutos senti saudades. Principalmente de ter que muitas vezes recorrer ao dicionário para explicar certas palavras que significavam coisas inexplicáveis, pois isso sempre acabava em gargalhadas.
Mas coisas boas mesmo são essas que a gente vive por um momento rápido o bastante para marcar a vida e saber que se tivesse sido por um pouco menos ou um pouco mais de tempo, não seriam tão envolventes e intensas.
Por isso por um momento, só por um momento, senti vontade de ter alguém aqui do lado para jogar conversa fora. Porque eu conheci um árabe, que se chama Karim. E a nossa amizade dá saudade no verão.
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